As alergias alimentares estão cada vez mais presentes na rotina das famílias, especialmente nos primeiros anos de vida das crianças. Essa fase é marcada por descobertas e introdução de novos alimentos, mas também exige atenção redobrada dos pais e cuidadores. Reconhecer os sinais precocemente é fundamental para garantir o bem-estar do bebê e evitar complicações.
Neste artigo, você vai entender o que são alergias alimentares, quais são os principais sintomas, como diferenciá-las de intolerâncias, quais alimentos mais causam reações e como lidar com o diagnóstico e tratamento.
O que é uma alergia alimentar
A alergia alimentar é uma resposta exagerada do sistema imunológico a determinadas proteínas presentes em alguns alimentos.
Quando o organismo reconhece uma substância como “ameaça”, ele libera anticorpos (como a imunoglobulina E — IgE) e substâncias inflamatórias, que causam os sintomas típicos das reações alérgicas.
Essas reações podem ocorrer minutos ou horas após o consumo do alimento, e sua intensidade varia de leve a grave.
Em casos severos, pode acontecer uma anafilaxia, reação alérgica generalizada que requer atendimento médico imediato.
Alergia alimentar x intolerância alimentar
Um erro comum é confundir alergia com intolerância alimentar, mas são condições diferentes.
- Alergia alimentar: envolve o sistema imunológico e pode causar reações graves, como inchaço, urticária ou falta de ar.
- Intolerância alimentar: está relacionada à dificuldade de digerir algum componente, geralmente por deficiência enzimática (como na intolerância à lactose), e causa sintomas digestivos, como gases, diarreia e desconforto abdominal.
Enquanto a intolerância tende a causar incômodos leves e localizados, a alergia pode afetar múltiplos órgãos e representar risco à vida.
Quando as alergias costumam aparecer
A maioria das alergias alimentares surge nos primeiros dois anos de vida, geralmente durante a introdução alimentar.
Isso acontece porque o sistema imunológico do bebê ainda está em desenvolvimento e mais suscetível a reações exageradas.
Estudos mostram que até 8% das crianças com menos de 3 anos apresentam algum tipo de alergia alimentar, sendo as mais comuns aquelas causadas por:
- Leite de vaca
- Ovo
- Soja
- Amendoim e castanhas
- Trigo (glúten)
- Peixes e frutos do mar
Muitas crianças superam essas alergias com o tempo, especialmente as relacionadas ao leite e ao ovo, mas outras podem persistir até a vida adulta.
Principais sintomas de alergia alimentar em bebês e crianças
Os sintomas podem variar de leves a graves e aparecer poucos minutos ou até horas após a ingestão do alimento. É essencial observar qualquer alteração incomum após uma nova refeição.
Sintomas leves e moderados:
- Vermelhidão ou manchas na pele (urticária)
- Inchaço nos lábios, olhos ou rosto
- Coceira
- Cólica, gases, diarreia ou vômitos
- Irritação, choro excessivo e dificuldade para dormir
Sintomas graves (anafilaxia):
- Dificuldade para respirar
- Inchaço na língua ou garganta
- Queda de pressão arterial
- Palidez, sonolência ou perda de consciência
A anafilaxia é uma emergência médica e requer atendimento imediato. Pais e cuidadores devem procurar o pronto-socorro sem demora.
Como identificar se é alergia alimentar
Identificar uma alergia alimentar exige observação cuidadosa e diagnóstico médico.
A principal dica é prestar atenção aos sintomas após a introdução de novos alimentos.
Passo a passo para observar possíveis reações:
- Introduza um alimento por vez: espere de 3 a 5 dias antes de oferecer outro novo.
- Observe o bebê nas horas seguintes: anote qualquer reação de pele, respiração, digestão ou comportamento.
- Suspenda o alimento suspeito e comunique o pediatra.
- Evite testar por conta própria: não reintroduza o alimento sem orientação médica.
O diagnóstico é feito por meio de histórico clínico detalhado, exames laboratoriais (como o teste de IgE específico) e, em alguns casos, testes de provocação controlada, realizados em ambiente hospitalar.
Alergia à proteína do leite de vaca (APLV): a mais comum
Entre as alergias mais frequentes na infância está a alergia à proteína do leite de vaca (APLV), que ocorre quando o organismo do bebê reage às proteínas do leite, como a caseína e a beta-lactoglobulina.
A APLV pode ocorrer mesmo em bebês amamentados exclusivamente, já que pequenas quantidades dessas proteínas podem ser transmitidas pelo leite materno, dependendo da dieta da mãe.
Sintomas comuns da APLV:
- Cólica intensa e choro inconsolável
- Presença de sangue nas fezes
- Refluxo frequente
- Diarreia ou constipação persistente
- Eczemas e lesões na pele
O tratamento consiste na exclusão completa do leite e derivados da dieta da mãe (em casos de amamentação) ou na utilização de fórmulas especiais hipoalergênicas, sempre com acompanhamento médico e nutricional.
Alergia ao ovo e a outros alimentos
Além do leite, o ovo é outro alimento com alto potencial alérgico, especialmente a clara.
Normalmente, as reações aparecem logo após o consumo, com manchas na pele, inchaço ou desconforto gastrointestinal.
Outros alimentos, como soja, amendoim, castanhas, trigo e frutos do mar, também estão entre os mais associados a alergias.
Esses casos geralmente exigem acompanhamento de um alergologista, pois as reações podem variar muito de criança para criança.
Como prevenir alergias alimentares
Durante muito tempo, acreditava-se que adiar a introdução de alimentos potencialmente alergênicos era uma forma de prevenir alergias. Hoje, estudos mostram o contrário.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam que a introdução de alimentos como ovo e peixe ocorra normalmente a partir dos 6 meses, junto com os outros alimentos, desde que não haja histórico grave de alergia na família.
Outras medidas preventivas incluem:
- Manter a amamentação materna exclusiva até os 6 meses;
- Evitar o uso desnecessário de antibióticos no primeiro ano de vida;
- Estimular a microbiota intestinal saudável com alimentos naturais e ricos em fibras, conforme a idade;
- Evitar ultraprocessados e açúcares precoces na dieta do bebê.
Esses cuidados ajudam o sistema imunológico a amadurecer de forma equilibrada.
Tratamento e acompanhamento
O tratamento da alergia alimentar é baseado na exclusão do alimento causador da dieta e no acompanhamento com profissionais de saúde, incluindo pediatra, alergologista e nutricionista infantil.
É importante garantir que, mesmo com restrições, o bebê receba todos os nutrientes necessários para crescer bem.
Por isso, dietas restritivas nunca devem ser feitas sem orientação profissional.
Em alguns casos, quando há chance de tolerância, o médico pode recomendar uma reintrodução gradual do alimento, feita sob supervisão médica em ambiente controlado.
Impactos emocionais e rotina familiar
Ter um filho com alergia alimentar pode ser desafiador. A família precisa aprender a ler rótulos, adaptar receitas e estar sempre atenta ao ambiente, especialmente em escolas e festas.
O apoio emocional é essencial. Conversar com outros pais que vivem a mesma situação ou buscar orientação de grupos de apoio pode ajudar a tornar o processo mais leve e seguro.
Educar familiares, professores e cuidadores sobre a importância de evitar o contato acidental com o alimento alérgeno é uma etapa fundamental para prevenir crises.
Quando procurar um médico
Procure atendimento médico se o bebê apresentar:
- Manchas vermelhas ou inchaço logo após comer algo novo;
- Vômitos repetidos, diarreia intensa ou sangue nas fezes;
- Tosse, chiado ou dificuldade para respirar;
- Choro inconsolável e irritabilidade após as refeições.
Em casos de sintomas graves, como falta de ar, desmaio ou inchaço no rosto e garganta, leve o bebê imediatamente ao pronto-socorro.
Conclusão
Identificar alergias alimentares nos primeiros anos de vida é um passo essencial para garantir o crescimento saudável e a qualidade de vida das crianças.
Observar atentamente os sintomas, manter um diário alimentar e buscar orientação médica são atitudes que fazem toda a diferença.
Com acompanhamento adequado, a maioria das alergias pode ser controlada — e, em muitos casos, superada com o tempo.
O mais importante é agir com atenção, paciência e cuidado, sem pânico, mas com a segurança que o conhecimento proporciona.